O resultado oficial do primeiro turno das eleições parlamentares da França, divulgado nesta segunda-feira (1°), confirmou as projeções de vitória da extrema direita liderada pelo Reagrupamento Nacional (RN) com 33% dos votos recebidos neste domingo (30). Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, ficaram os blocos de esquerda (com 28% dos votos) e centro (com 20%). Cabe agora ao segundo turno do pleito — marcado para 7 de julho — a tarefa de decidir qual partido indicará um nome ao cargo de primeiro-ministro, que governará junto com o atual presidente Emmanuel Macron.
Diante da derrota do seu bloco político, Macron defendeu uma “união democrática e republicana” para o próximo domingo. Antes mesmo da votação do primeiro turno, porém, a coalizão de esquerda Nova Frente Popular, que reúne aliados do partido França Insubmissa (LFI), havia prometido retirar seus candidatos caso ficassem em terceiro lugar, com o objetivo de aumentar as chances do candidato governista contra um da extrema direita.
Na prática, a indicação de um premiê politicamente incompatível com as ações de Macron pode tornar o seu governo inviável. O chamado governo de coabitação, que acontece quando presidente e primeiro-ministro são de partidos diferentes, ocorreu apenas três vezes na história da França. Esta também seria a primeira vez que a extrema direita ocupa o alto escalão do poder no país desde a ocupação nazista.
Com uma participação recorde de eleitores, o primeiro turno registrou, às 17h locais (três horas antes do fechamento das urnas) a taxa de votação de 59,39%, 20 pontos a mais do que no mesmo horário em 2022, segundo o Ministério do Interior francês. No entanto, o número de assentos conquistados por cada coalizão ainda é incerto.
Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato pontuam que a união de forças democráticas será fundamental no segundo turno. "O primeiro o seria criar uma frente democrática, onde se juntariam todos os partidos que não são de extrema direita. Se isso realmente acontecer, precisamos ver se a população aceita. Porque a extrema direita surge quando há uma grande insatisfação com Macron. Então quem vota na esquerda, pode até estar disposto a votar na extrema direita também, mas votar em candidatos do Macron já é mais difícil", comentou o professor de Relações Internacionais da UFABC Giorgio Romano.
Já a cientista política sa Florence Poznanski afirma que a decisão do governo, sobre apoiar ou não o bloco de esquerda apontado em segundo lugar na votação, ainda gera dúvidas. "Ele chamou a esquerda de extremista, o que não é verdade. Ele tentou criminalizar [a esquerda], dizendo que ao lado da extrema direita, a extrema esquerda seria igual. Ele nunca se posicionou considerando que o bloco de esquerda era republicano", diz.
Por que a França foi às urnas?
As eleições foram convocadas por Macron após derrota surpreendente – e grande vitória da extrema direita – nas eleições do Parlamento Europeu no início do mês. O presidente tem a prerrogativa de dissolver o Parlamento e chamar um novo pleito.
A decisão arriscada de Macron – de convocar eleições – não só põe em risco os assentos da sua coligação no Parlamento, mas também ameaça a estabilidade política e as perspectivas futuras do seu projeto político durante os três anos restantes do seu mandato presidencial.
O RN já anunciou que, se conseguir a maioria absoluta com seus aliados, irá indicar como primeiro-ministro o jovem líder Jordan Bardella, que aos 28 anos levou seu partido à vitória nas eleições europeias.
Em contrapartida, a Nova Frente Popular surge como alternativa ao governo macronista e à crescente influência da extrema direita. Defendendo uma mudança radical na Constituição sa para estabelecer uma "Sexta República", a frente de esquerda propõe medidas econômicas concretas, como o aumento do salário mínimo e o aumento do investimento estatal nos serviços públicos.