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Repórter SUS | Sistema Único de Saúde e Constituição celebram 30 anos

Apesar da falta de recursos para que fosse integralmente implementado, SUS representa salto de qualidade no atendimento

Apesar da falta de recursos para que fosse integralmente implementado, SUS representa salto de qualidade no atendimento

O Sistema Único de Saúde está completando 30 anos. O SUS nasceu junto com a Constituição de 1988, que assegura que Saúde é direito de todos e dever do Estado.

Nessas três décadas faltaram recursos para que o SUS fosse integralmente implementado, mesmo assim houve um grande salto de desenvolvimento e qualidade no atendimento à classe trabalhadora.

No Repórter SUS desta semana, produzido em parceria com a Escola Politécnica Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz, Sônia Fleury, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que foi assessora parlamentar na época da Constituinte e esteve presente na criação do SUS, comenta as conquistas e o que poderia ter avançado mais nesses 30 anos. Ela também alerta para a necessidade de observar quais candidatos têm compromisso com o nosso Sistema Único de Saúde.

Confira trechos da entrevista:

A criação do SUS, Sistema Único de Saúde, foi a maior conquista da democracia brasileira. Por que isso? Porque antes da criação do SUS, as pessoas eram divididas entre aqueles que tinham alguma cobertura de saúde e aqueles que não tinham direito. Os que tinham direito eram apenas os que estavam no mercado formal de trabalho e contribuíam com a Previdência Social, os demais eram atendidos pela caridade nas Santas Casas de Misericórdia quando podia. 

Não havia o direito à saúde.

O sistema universal, por isso é chamado de Sistema Único de Saúde, é que acabou com essa divisão entre os que podiam ser atendidos na rede hospitalar, que era da Previdência Social, e os que tinham que recorrer à caridade ou quando tinham algum tipo de doença crônica tinha o Ministério da Saúde. Juntou isso tudo e universalizou-se: todos os brasileiros aram a ter o direito à saúde.

Ao mesmo tempo em que se conquistou, e o SUS foi uma grande conquista da democracia, os recursos não vieram. Ao contrário, foram retirados. A MF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira] foi criada e foi retirada da Saúde, recursos que estavam previstos na Constituição também não vieram, e isso implicou em se ter muita gente para ser atendida e restrições [financeiras] para melhorar a qualidade, aumentar a rede, pagar melhor os profissionais, para tornar esse direito à saúde realizável.

Houve medidas importantes? Houve. Criação do [Programa] Saúde da Família, que permitiu chegar a atenção à saúde preventiva a muitas pessoas, que aram a ter alguém para cuidar delas, e não somente numa emergência ir parar num hospital quando já estava doente. O programa de medicamentos populares, a rede de Farmácia Popular também faz parte desse direito, extremamente importante.

Distorção do papel

Agora, o que os governos fazem? Quando estão endividados; acreditam que a dívida maior é com o sistema financeiro e não com os seus cidadãos; eles retiram recursos dessas áreas [sociais, como saúde], cortando [investimentos] nos programas. E isso foi gerando uma situação insustentável, porque esse direito não está se realizando. As pessoas começam a entrar na justiça para ter seu direito assegurado na área de saúde. O que distorce enormemente, porque uns entram na justiça e conseguem, e outros não entram e não conseguem ser atendidos.

Então, o SUS é uma coisa ruim? Não, ele é a melhor coisa que aconteceu, agora precisa que os governos e os eleitores [pensem] nas pessoas que eles vão votar, [naqueles que] se comprometam a colocar os recursos que tornem o direito universal para todo mundo, nas melhores condições que o governo possa garantir. Isso é fundamental para o bem-estar da população. Assegurar os seus direitos de cidadania, de ter uma atenção regular na saúde, saber onde ele pode ser atendido.

Compromisso

Não é possível que ocorra uma situação de injustiça, discriminação, como a gente vê na peregrinação. Uma pessoa chega numa unidade de atenção e informam que não há médico, e o sistema público se desresponsabiliza de cuidar daquele paciente. Isso é um crime.

O sistema público, a partir do momento em que o cidadão chega lá, tem que encaminhar a pessoa, não pode dizer a ela: “pegue outro ônibus e vá procurar em outro local para ver se você consegue atenção”. Essa é uma questão fundamental, a garantia da atenção.

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