A defesa da natureza é parte inseparável da Reforma Agrária Popular. Está no cerne da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a proteção dos bens da natureza e sua democratização – em contraponto ao seu uso privado, como mercadoria. É nesse caminho de recuperação de áreas degradadas que o MST-PR anuncia a 3ª Jornada da Natureza, sob o lema: Semeando vida para enfrentar a crise ambiental.
Nesta edição, a Jornada será realizada de 2 a 7 de junho e vai ar por dezenas de municípios do Paraná, como parte das mobilizações pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho. No horizonte do debate sobre a emergência climática estão também a COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que será realizada em Belém, em novembro deste ano, e a Cúpula dos Povos, uma articulação de cerca de 400 movimentos sociais para pressionar pela participação popular nas decisões sobre o clima.
Ao longo dos seis dias da 3ª Jornada estão previstas a semeadura aérea e a distribuição de 21 toneladas de palmeira juçara, em áreas da Reforma Agrária e comunidades tradicionais. O diferencial da ação é a semeadura aérea e massiva de plantas nativas da Mata Atlântica em risco de extinção, realizada com apoio de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF), parceira na atividade desde a primeira edição. A programação principal, aberta ao público, será nos municípios de Quedas do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Antonina, Rio Bonito do Iguaçu e Lapa (confira abaixo).
Outras dezenas de ações vão acontecer em diversos municípios do estado, voltadas diretamente aos camponeses/as: são cerca de 20 oficinas e atividades práticas de recuperação de nascentes e de áreas degradadas, produção em agrofloresta, manejo e proteção do solo, homeopatia na Produção Animal, produção de mudas de erva mate, prevenção à deriva de agrotóxico e à influenza aviária, entre outras.
O encerramento da Jornada terá como ação principal a inauguração de um viveiro de mudas e horto medicinal no assentamento Contestado, na Lapa. O viveiro terá capacidade para produção de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista, a conhecida floresta de araucária. Já o horto de plantas bioativas prevê a produção de 5 mil mudas por ano, além de ser espaço pedagógico para o aprendizado para o cultivo de matrizes, manejo e propagação das espécies e produção de matéria-prima para fitoterápicos. Esta ação integra o projeto Bem Viver, que desenvolve capacitações e implantação de práticas agroecológicas e agroflorestais, em todo o estado. O projeto é resultado da parceria entre o Instituto Contestado de Agroecologia (ICA) e a Itaipu Binacional, por meio do Programa Mais que Energia, alinhado ao governo federal.
Ações massivas para popularizar a defesa do meio ambiente
A Jornada nasceu em 2023 como parte do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, do MST, que tem como objetivo recuperar áreas degradadas e, ao mesmo tempo, produzir alimentos saudáveis – com a meta de plantar 100 milhões de árvores até 2030.

A primeira edição espalhou cerca de 4 mil toneladas de sementes da palmeira juçara – que produz fruto semelhante ao açaí, e teve efetividade comprovada por pesquisadores dos Sistemas Agroflorestais, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), Ibama e Itaipu Binacional. O monitoramento da equipe de pesquisa mostrou que nasceram entre 10 e 11 mil mudas por hectare, a partir da primeira semeadura, realizada em julho de 2023.
“Iniciamos a Jornada em 2023 e hoje ela tem uma proporção bem maior do que a gente imaginou. São centenas de ações envolvendo plantios de mudas, inauguração de viveiros, atividades de oficinas e seminários em torno da educação ambiental, proteção de fontes e nascentes. Então ela sai de uma atividade que lançou sementes e ela germinou para inúmeras atividades”, descreve Tarcísio Leopoldo, integrante da direção estadual do MST e produtor agroecológico na comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região centro do Paraná, onde ocorreu a primeira ação.
“Estamos muito empolgados, porque vem se consolidando uma Jornada que mostra a importância das comunidades organizadas em torno da luta pela terra, e também um dos pilares do nosso programa de Reforma Agrária Popular, que é a defesa do meio ambiente e o cuidado com a natureza”, conta Tarcísio, que é um dos organizadores da ação.

Em 2024, foram semeadas aproximadamente 13 toneladas de sementes em 600 hectares, sendo 10 toneladas da juçara e 3 toneladas de pinhão da araucária, também ameaçada de extinção, em Quedas do Iguaçu, Guarapuava, Antonina e na Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras.
*Com informações do Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR