Moradores e estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Vinícius de Moraes, na região de São Mateus, em São Paulo (SP), seguem mobilizados contra o afastamento do diretor Moisés Basílio, ocorrido de forma repentina na última semana. A Prefeitura alega que a medida faz parte de um programa de capacitação, mas a comunidade escolar contesta a justificativa e classifica a ação como arbitrária.
“A prefeitura diz uma coisa e a realidade diz outra. A prefeitura arruma desculpas para fazer o que ela quer em cima da população. Não aguentamos mais isso”, declarou Flávia Marques, representante da Comunidade Promorar, em entrevista nesta terça-feira (27) ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo ela, Basílio estava à frente da escola desde 2012 e foi responsável por transformações importantes no ambiente escolar. “Antes dele ser diretor, a escola era um caos. Eu estou lá há mais de 20 anos, meus filhos estudaram lá. Era difícil, jogavam bomba dentro da escola. […] Mesmo assim, esse diretor chegou e fez a diferença. Ele é acolhedor, democrático, atende a todos”, relatou.
O desligamento do diretor aconteceu de maneira repentina: ele teria sido chamado a uma reunião na Diretoria Regional de Ensino (DRE) na última quinta-feira (22) e, no dia seguinte, já não estava mais na unidade. A comunidade diz que não foi consultada e ficou sem explicações. “Tiraram ele como se fosse um ladrão. Mandaram um e-mail, ele foi para a reunião, e lá falaram: ‘Você não vai estar mais na escola’. E não quiseram nem que ele voltasse para se despedir”, conta a representante.
Com a repercussão, alunos organizaram protestos, colaram cartazes e realizaram um ato em defesa do educador. “Eu tive que fechar a escola. Travei o portão de estacionamento, não deixei os professores entrarem. Os alunos mesmo reivindicaram. Foi lindo o ato deles. Eles não querem o diretor fora da escola”, conta Marques.
Para ela, o afastamento do diretor, que já teria sido reconhecido como um dos cinco melhores do estado, é um retrocesso. “Ele fez o quê de errado? Foi um excelente diretor, representou a nossa sociedade. Ele faz até hoje pelos ex-alunos, recebe, aconselha… A comunidade não concorda com isso. Parece que a prefeitura não quer um bom diretor atendendo à escola, mas um mau diretor”, sugere.
A escola já foi destaque em premiações e olimpíadas estudantis. “Temos uma qualidade boa de notas, de atendimento. Se um ou outro foi mal, a culpa não é do diretor. Nós vivemos em um lugar de vulnerabilidade”, ressalta. “Eles [da prefeitura] estão lá devido ao povo. O povo não quer isso. Se eles estão pelo povo, que ajudem o povo fazendo o melhor. E não é o melhor tirar o diretor Moisés da escola”, concluiu.
A prefeitura de São Paulo afastou 25 diretores de escolas, em Diário Oficial publicado na última sexta-feira (23), para participarem de um projeto que integra o Programa Juntos pela Aprendizagem. O objetivo declarado é oferecer formação para que servidores retornem para as suas unidades e promovam um trabalho pedagógico que resulte em melhorias.
Na prática, a convocação representa um afastamento dos servidores sem o devido processo legal, já que o curso é de nove horas diárias até o final do ano, o que inviabiliza a direção nas escolas. “Inventaram um curso. Eu nunca vi um diretor fazer um curso e uma professora entrar no lugar dele. É injusto isso”, protesta Marques.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.