Um grupo de homens jogou uma granada dentro de uma ocupação da Frente de Luta por Moradia (FLM) no Centro de São Paulo (SP) na tarde da última segunda-feira (26). Com a bomba ainda intacta dentro do prédio na rua General Osório, os homens ficaram do lado de fora xingando os sem-teto. A Polícia Militar (PM) foi ao local e apoiadores da ocupação também. Após cerca de duas horas, o quarteirão foi isolado pelo esquadrão antibombas, que realizou o procedimento e implodiu o artefato.
“Foi aterrorizante. Cheio de famílias aqui. As pessoas ficaram super assustadas, crianças chorando para todos os lados. Eles empurraram a porta, queriam entrar de qualquer jeito, a gente resistindo. E nisso eles começaram a querer serrar o portão, correntes, quebraram vidros, jogaram pedras, madeiras e as bombas ”, descreve Francielly, coordenadora de apoio da ocupação. Segundo ela, o atentado foi feito por lojistas da região. Do lado de fora, teriam feito gestos imitando macacos.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que a PM foi acionada por volta das 19h da segunda-feira (26), para “atender uma ocorrência de disparo de arma de fogo”. Ao chegar, diz a nota, “os policiais encontraram diversas pessoas em frente a um prédio que havia sido invadido. Durante a averiguação, os agentes localizaram uma granada de efeito moral, não deflagrada. O GATE [Grupo de Ações Táticas Especiais] foi acionado e realizou a implosão. Ninguém ficou ferido”.
O ataque acontece dois dias depois de o prédio de dois andares, antes abandonado, ser ocupado pelos sem-teto. Enquanto acontecia a Virada Cultural no último sábado (24), além deste, a FLM também ocupou um prédio na avenida 9 de julho, pertencente ao Ministério da Saúde. Este mesmo imóvel foi ocupado pela FLM por apenas algumas horas em novembro de 2023, em um episódio que terminou com repressão da Polícia Militar. Dessa vez, a ocupação permanece.
Com as ações do último final de semana, são três as ocupações feitas pela FLM em São Paulo neste mês. Além destas duas, em 18 de maio famílias sem-teto se estabeleceram em um prédio abandonado dos Correios no Carandiru, zona Norte da capital paulista.
O ataque na ocupação da General Osório
Gerônimo*, que integra a ocupação da rua General Osório, conta que depois que a faixa do movimento foi colocada na varanda, os sem-teto foram abordados por comerciantes. “Ameaçaram de morte eu e outro companheiro e foram embora. Aí do nada chegaram pessoas encapuzadas e jogaram bomba”, relata.
Segundo Gerônimo, durante a noite os ocupantes estão sendo monitorados. “Tem uma mulher em um carro que fica 24 horas na frente para intimidar os moradores”, afirma. “A gente está com medo, né, dos próprios lojistas que estão do lado. A gente não quer mexer no que é deles, ao contrário, vai cuidar também deste espaço”, diz.
“Denunciamos essa violência e exigimos punição aos agressores. Nossa luta é legal, só queremos nosso direito à moradia assegurado. Não fazemos mal a ninguém. Somos pessoas de bem e não aguentamos mais pagar aluguel”, declarou a FLM em nota.
*Nome alterado para a preservação da fonte.