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Leonardo Melgarejo

Com Bonner lá, Scamparini não subiu no telhado

Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Perma...
Ideia de comentar o tratamento superficial da Globo sobre a sucessão papal foi atropelada pela tropa golpista da Câmara

O comentário desta semana pretendia tratar – novamente – da sucessão do papa Francisco. Já tinha um título e uma linha de exposição alinhados a tradição das coberturas da Rede Globo, em Roma. Afinal, a intencionalidade daquele exército de turistas de luxo empenhados em subverter a essência política de uma transição que pode afetar os destinos do planeta não poderia ar desapercebida.

Porém, a ideia básica de comentar aqui o tratamento superficial da vênus platinada, focada nos reflexos de luzes nas calçadas da cidade das sete colinas, para ocultar movimentos e intenções dos principais críticos do papa Francisco, foi atropelada na noite de quarta-feira (7), pela tropa golpista que reina na Câmara Federal, quando os deputados a pretexto de suspender a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) abriram os portões para o perdão de todos os golpistas.

Por isso, quanto aos atuais movimentos do demo, lá nas voltas do Concilio, recomendo atenção à matérias do Brasil de Fato, lembrando que Donald Trump não foi ao Vaticano para rezar.  Afinal, embora óbvio, vale dizer que a Globo também não está lá para lembrar aos brasileiros daquelas atitudes com que Francisco anunciou que a fé cristã, em sua essência, reclama compromissos de todos para com a ampliação do protagonismo dos esquecidos pelo capitalismo, caminho fundamental para a redução das iniquidades e a construção de um mundo mais justo. Também não será evidenciado pela Globo que Francisco chamou  organizações sociais, comunidades científicas e religiosos de outras formações espirituais,  para escrever, com ele, e respeitando a diversidade de suas posições, aquelas encíclicas luminosas.

Estes e outros posicionamentos por parte de um soberano absoluto que abdicou desta condição, baseando seu pontificado na escuta, na consulta, no cuidado com os motivos de todas as diferenciações, corresponde a um chamado de consciência que deve nos alertar contra as enganações preparadas pelos servos do capeta, canalhas menores, sanguessugas e bajuladores de todo tipo, que rastejam entre nós.

E foi a ação vergonhosa daqueles que por fatalidade dominam a Câmara Federal, que acabou impondo a iniquidade, a falta de vergonha parlamentar, como nosso tema para este comentário semanal.

Ressalve-se que o novo e até aqui de longe o maior de seus crimes, não começou ontem. A trama da Lava Jato, a mamadeira de piroca, o golpe contra Dilma,  a prisão do Lula, o teto fiscal, o bloqueio nas estradas, o caminhão bomba, o mimo aos acampamentos golpistas, o punhal verde amarelo, os milhões de o às lives mentirosas do Nikolas Ferreira (PL), o bloqueio à regularização das mídias, a construção programada da desinformação, do medo e das mentiras e o avanço da corrupção, que deram aquele colorido e mau cheiro ao Congresso, nos trouxeram ao atual momento.

E com certeza a rede globo tem responsabilidade para com isso, mas não é a única. Todos que se posicionaram e se movimentam contra os valores defendidos por Francisco, que esperam se beneficiar de alguma forma com a anistia aos mentores/financiadores/executores desta última tentativa de golpe, são coautores do que nos ameaça. Não serão esquecidos, e precisam ser enfrentados.

Para tanto, precisamos entender que a ganância, a arrogância daquelas pessoas e das legiões em que participam se apoiam em nossa desatenção àquilo que até o Relatório de Riscos Globais 2025, do Fórum Econômico Mundial já apontou como o maior de todos os desafios do presente: a ignorância coletiva. Construída pela desinformação intencional, sistemática e cientificamente programada, ela prospera na mesma medida em que nossa apatia facilita a exploração, a degradação das possibilidades de vida e do espírito humano, em favor dos interesses de um sistema falido e sob as patas de seus serviçais.

Pois é disso que se trata.

Na noite do dia 7 de maio a Câmara Federal aprovou um projeto de lei segundo o qual “fica sustado o andamento da Ação Penal contida na Petição n.12100 em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a todos crimes imputados”. O texto, enganoso e flagrantemente inconstitucional, após aprovado por 44 (contra 18) votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), subiu acelerado para a plenária. Ali, em regime de urgência, sem possibilidade de discussão e sem que a sociedade – que majoritariamente rejeita a anistia – pudesse ser minimamente informada, recebeu 315 votos incluindo 197 de partidos da base do governo que ocupam ministérios de Lula (PP, 44 votos a favor, 1 contra e 3 ministérios; MDB, 32 votos, 5 contra e 3 ministérios; PSD, 26 votos, 11 contra e 3 ministérios; PRD, 4 votos, zero contra e um ministério; PSB 3 votos, 3 ministérios; PDT 2 votos – havia recém deixado o Ministério da Previdência) e mais 40 votos do Republicanos, partido de seu suposto aliado, na presidência da Câmara Federal, entre outros.

Só este parágrafo, relatando o coração do que ocorreu após Jair Bolsonaro (PL) expor as tripas para se vitimizar e logo depois mostrar sua condição real, ao subir e descer de um carro de som, naquele comício fracassado de Brasília, já justificaria um novo título para esta coluna. Caberia bem algo como Os Ratos Contra-atacam, pois foi exatamente isso que ocorreu.

Mas Francisco é nosso guia. E pensando nele precisamos entender qual é nosso lado, nosso papel e nossos deveres neste momento histórico em que parlamentares canalhas tratam de desmoralizar os fundamentos da democracia, comprometendo a paz e fraudando argumentos que, maliciosamente espalhados pela máquina de desinformação, tendem a encaminhar o Brasil para o caos.

 “O meu povo é pobre e eu sou um deles” disse Francisco em frases e ações que resumindo sua vida agora nos convocam a reagir contra aqueles que, se omitindo ou atuando como vendilhões do templo, da pátria e do futuro deste pais, acabam de recolocar entre nós o golpe de estado, como ameaça real.

Uma música que diga algo sobre isso? É até chato, pela banalização e repetição excessivas e esvaziadas a que Geraldo Vandré tem sido relegado, mas sem dúvida, quem sabe faz hora, não espera acontecer.

Ao que parece, infelizmente os golpistas se apropriaram também disso.

Precisamos reagir.  

Obs: fumaça branca na Capela Sistina e depois de fugir do Bonner a Ilze Scamparini de fato subiu no telhado… Infelizmente, sem tempo para estudar o fato e assim poder comentar as implicações a esperar da ascensão deste novo papa, norte-americano que viveu no Peru e que esperamos carregará consigo a coragem, o espírito e a alma que nos iluminaram e aqueceram durante o pontificado de Francisco.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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