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Milton Alves

Pepe Mujica, o guerrilheiro da utopia

Ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada contra Lula e o PT’ (2019) e ‘A Saída é pela Esquerda...
'Nunca transigiu os princípios e os valores mais caros do lutador social'

Pepe Mujica [1935-2025] se foi! Ele ainda nos avisou que estava nos deixando. Mujica é uma referência da esquerda na América Latina — com uma longa trajetória, foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, deputado, senador e ministro.

Em seu governo na presidência do Uruguai, aumentou o salário mínimo em 250%, reduziu a pobreza de 37% para 11%, apoiou os sindicatos e o direito de greve. Adotou políticas públicas avançadas como a legalização da maconha no país, o direito ao aborto e promulgou a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Um traço marcante na trajetória de Pepe Mujica foi o seu comportamento austero, sem as afetações de ostentação e luxo no exercício do poder: rejeitou morar no palácio presidencial e levou a vida de forma simples, recebendo as pessoas comuns e líderes políticos na sua modesta finca, localizada nos arredores de Montevidéu.

O seu fusca azul 1978 era também uma marca emblemática do seu modo de vida, que combinava simplicidade com despojamento. “Escolhi esse estilo de vida austero, escolhi não ter muitas coisas, para que eu tenha tempo de viver como eu quero viver”, declarou em inúmeras entrevistas, quando perguntado sobre o seu estilo de vida. Também doava parte de seu salário para as organizações de caridade e assistência.

Mujica iniciou sua militância política na juventude, em 1956. Nos anos 60, integrou o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros (MLN-T), organização guerrilheira que combateu a sangrenta ditadura militar uruguaia.

Mujica foi preso diversas vezes, sempre barbaramente torturado, ou quase 15 anos na prisão, de 1972 até 1985. Na cadeia, sofreu com o isolamento, as surras frequentes e a fome, chegou a comer sabão, papel higiênico e insetos para sobreviver. O trauma do longo isolamento, deixou sequelas psicológicas em Pepe Mujica, superadas após a conquista de sua liberdade.

O filme “Uma Noite de 12 Anos”, do diretor Álvaro Brechner, narra a saga dos 12 anos de prisão em solitária vividos por José Mujica, Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro, líderes dos Tupamaros, durante o período da ditadura militar. 

Em 1985, com a transição democrática, retoma a atividade política legal e organiza, junto com os seus companheiros tupamaros, o Movimento de Participação Popular (MPP), partido que integra a frente de esquerda, conhecida como Frente Amplio (não confundir com a picaretagem política chamada de “frente ampla” por aqui).

Pepe Mujica nunca transigiu com os princípios e os valores mais caros do lutador social: a resiliência política e a rejeição ao modo de vida dos “de cima”. Um combatente para além das conveniências imediatistas. Um ser humano valoroso, um gigante na luta em favor dos mais humildes. Um guerrilheiro da utopia.

*Milton Alves é colunista em diversos sites e portais da mídia progressista e de esquerda. Autor dos livros ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país’ [Kotter, 2022], e de ‘Lava jato, uma conspiração contra o Brasil’ [Kotter,2021] entre outras obras. Ativista social e militante do PT de Curitiba.

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