Os ataques misóginos e racistas sofridos pela ministra Marina Silva (Rede), do Meio Ambiente, durante uma audiência realizada nesta terça-feira (27) no Senado mostra, para a socioambientalista Mariana Belmont, um padrão de perseguição a quem defende a pauta ambiental. “Se a pessoa tiver um compromisso com a questão ambiental, ela vira alvo dos negacionistas, de qualquer espectro político”, afirmou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quarta (28).
Para a ambientalista, os ataques fazem parte de uma estratégia deliberada por parte de setores da extrema direita e de uma ala negacionista do Congresso. “Eu acho que é sim um debate ideológico, que opera a partir da lógica do negacionismo climático, ambiental, por essa exploração e uma narrativa desse desenvolvimento usando os recursos misóginos, racistas, machistas para atacar a ministra”, avaliou.
Segundo a socioambientalista, a reação agressiva contra Marina não se dá por seu perfil pessoal, mas pela agenda que ela representa. “Ela sofre da oposição a tentativa de enfraquecimento por parte de quem é inimigo da pauta ambiental. Isso aconteceria com outros também, desde que tivessem esse compromisso com a agenda. Se colocar alguém que deixa ar a boiada, acaba essa perseguição”, indicou.
Belmont, que é próxima da ministra, acredita que Marina Silva saiu fortalecida do episódio. “Ela é grandona. Uma mulher negra da Amazônia, ministra de Estado pela segunda vez. Em dois anos, o trabalho da equipe liderada por ela teve resultados maiores do que qualquer um feito por aquele tipo de senador que temos no Congresso Nacional”, disse. “Ela sai muito maior do que chegou ontem no Senado”, acrescentou.
PL da Devastação institucionaliza o racismo ambiental
Para Mariana Belmont, o projeto de lei (PL) que flexibiliza o licenciamento ambiental, conhecido como PL da Devastação, tem impacto direto sobre comunidades tradicionais. “Esse projeto institucionaliza o racismo ambiental. Ele desconsidera a existência e a opinião dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. […] Joga ao descaso e à violência mais de 40% das terras indígenas e mais de 95% dos territórios quilombolas do país.”
O texto atual ainda enfraquece o papel de órgãos técnicos como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que poderão ser ignorados na concessão das licenças. Para Belmont, isso significa o fim das salvaguardas mínimas às populações atingidas por grandes empreendimentos.
Ela alerta que o desmonte das políticas ambientais não se limita às regiões mais remotas. “Isso agrava um processo de embranquecimento dos territórios, de remoção de pessoas negras periféricas para construção de grandes obras, sem consulta prévia. […] Esses territórios vão ser impermeabilizados, cimentados, agravando a crise climática também nas grandes cidades.”
De acordo com a socioambientalista, o projeto representa um dos maiores retrocessos ambientais recentes no Congresso Nacional. “Essa proposta tem o potencial de agravar a degradação ambiental, representando grave ameaça aos direitos humanos fundamentais”, afirmou.
Segundo ela, ao retirar exigências de estudos técnicos, condicionantes e monitoramento, o projeto desconsidera os impactos diretos sobre a saúde e a vida da população, principalmente em um contexto de emergência climática. “Essa flexibilização agrava a relação com a desigualdade social e sequer menciona a crise climática que temos vivido nos últimos anos”, criticou Belmont.
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