A abertura de um inquérito contra o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pode terminar na cassação do seu mandato e até em prisão. Para a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, em entrevista ao programa Conexão BdF , da Rádio Brasil de Fato, a perda do mandato pode ser mais um o rumo ao fim da liderança bolsonarista no campo da direita no Brasil.
Eduardo Bolsonaro, que está fora do país desde março, articulou junto ao governo do presidente Donald Trump nos Estados Unidos pedidos de sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, que assume como relator do inquérito. O caso ou a ser investigado a pedido da Procurador-Geral da República (PGR) como um possível atentado à soberania nacional. Para Goulart, a movimentação evidencia uma tentativa deliberada de interferência externa.
O deputado licenciado tem até julho para retornar ao Brasil. Caso não o faça, pode enfrentar consequências como a perda do mandato. O líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias, já anunciou que pedirá sua cassação e prisão preventiva ao Conselho de Ética da Casa. Para Goulart, o enfraquecimento de Eduardo tem potencial de atingir a própria estrutura do bolsonarismo no Legislativo.
“Essas lideranças, por estarem enfrentando problemas judiciais, tendem a ter o seu papel de organização eleitoral dessa base social dificultado”, disse. Segundo ela, o retorno de Eduardo ao Brasil poderia ter impacto direto também na capacidade do seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente inelegível e réu no STF, transferir votos em 2026. “Caso ele não seja capaz de se candidatar e enfrente problemas com a lei ou seja mantido nos Estados Unidos para se preservar, é menos um Bolsonaro a ser eleito e atuar no parlamento”, explica.
A cientista política acredita que a extrema direita tem meios para renovar suas lideranças, embora sem o mesmo peso simbólico do nome Bolsonaro. “A direita não está com problema de produzir lideranças. A questão é que essa pessoa não vai levar o nome Bolsonaro. E quanto menos esse nome for proferido, maior a chance de Bolsonaro e seus filhos deixarem de ser o ponto focal da extrema direita brasileira”, avalia.
Questionada sobre o discurso de “perseguição política” usado pela base bolsonarista, Goulart ponderou. “Essa narrativa é produzida para os nichos, para as bolhas de extrema direita, e ali repercute de maneira muito profunda. Não me parece ser uma narrativa para a população como um todo, mas para movimentar essa base social”, diz.
Para ouvir e assistir
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