No livro de Êxodo, a narrativa bíblica nos mostra Moisés e o povo hebreu encurralados entre o Mar Vermelho e o exército de Faraó, que os perseguia para capturá-los e escravizá-los. Diante desse ime, Deus dá uma ordem decisiva: “Diga ao povo que marche”. O mar ainda estava fechado. Foi apenas após os primeiros os de fé e coragem que o milagre aconteceu e as águas se abriram, revelando o caminho da libertação.
Hoje, milhões de trabalhadoras e trabalhadores brasileiros também vivem encurralados, esmagados pela exploração, adoecidos física e emocionalmente, e sem tempo para o descanso, o convívio familiar, o lazer, o autocuidado e a vivência da fé. A jornada 6×1 – seis dias de trabalho para somente um de folga – impõe um modelo de vida exaustivo, desumano, incompatível com os direitos fundamentais e com os princípios da fé cristã. É contra essa lógica de sobrecarga e esvaziamento da vida que marchamos!
Marchamos por jornadas mais humanas e produtivas.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que propõe o fim da escala 6×1, apresentada pela deputada Erika Hilton (Psol-SP) e pelo vereador Rick Azevedo (Psol-RJ), responde a um clamor antigo e legítimo: o direito ao descanso e ao tempo livre. Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) já demonstraram que jornadas mais equilibradas aumentam a produtividade, reduzem os afastamentos por adoecimento e aumentam o bem-estar. Além disso, países que implementaram modelos mais justos registraram ganhos sociais e econômicos, inclusive entre pequenos empreendedores.
Marchamos também pela liberdade de culto e pela vivência da espiritualidade.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 37 milhões de brasileiros trabalham aos domingos, dia historicamente reservado para cultos, missas e momentos de comunhão em diversas expressões religiosas. A jornada 6×1 agride não só o corpo, mas também o espírito, privando as pessoas de viver sua fé de forma coletiva. O descanso, na tradição bíblica, é um princípio sagrado, estendido inclusive à terra e aos animais. É um sinal de justiça e limite contra a ganância.
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Marchamos com dados, argumentos e propostas concretas.
O fim da escala 6×1 não inviabiliza a economia nem paralisa serviços essenciais. A experiência internacional demonstra que é possível adotar escalas com revezamento, preservando o funcionamento das atividades e, ao mesmo tempo, garantindo condições mais dignas e justas para quem trabalha.
A defesa do direito ao descanso é, por si só, uma questão de dignidade humana. E isso já deveria ser o suficiente para minimizar todos e todas nós! Mas, para quem tem fé, há ainda mais razões para lutar contra a escala 6×1: cuidar do corpo, desfrutar da presença da família e ter tempo para viver a espiritualidade são expressões de uma vida plena e abundante, que precisa ser protegida e valorizada!
Não importa o que digam, vamos marchar! Vamos nos organizar, caminhar e, juntos e juntas, produziremos o milagre na luta. Com fé e mobilização, o mar vai se abrir, a terra prometida será alcançada e o tempo da liberdade vai chegar.
*Henrique Vieira é pastor evangélico, ator, professor, escritor e deputado federal pelo Rio de Janeiro (Psol-RJ).
**Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil do Fato.