Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • Nacional
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • |
  • Cultura
  • Opinião
  • Esportes
  • Cidades
  • Política
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Opinião

ARTIGO

Pepe Mujica e a leveza subversiva de um outro mundo possível

'Talvez seja essa a maior herança de Mujica: a coragem de caminhar mesmo quando o caminho é estreito'

14.maio.2025 às 16h38
João Pessoa (PB)
Ítalo Aquino
Pepe Mujica, o guerrilheiro da utopia

Pepe Mujica em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba - Foto: Ricardo Stuckert

Foi por volta de 2014, nos primeiros semestres da graduação em História na Universidade Estadual da Paraíba, que conheci a figura de José ‘Pepe’”’ Mujica. Em meio ao calor das aulas sobre regimes autoritários, revoluções populares e imes do século 20, deparei-me com aquele homem de rosto enrugado, voz pausada, que ava serenidade. Mujica não me impressionou apenas por seu ado de militância, mas por sua maneira de habitar o mundo. Em uma época em que o consumo e o acúmulo são apresentados como sinônimos de sucesso, sua existência simples, ética e despretensiosa parecia — e ainda parece — um ato revolucionário.

Nascido em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, no Uruguai, Mujica cresceu em meio a uma realidade rural e modesta. Ainda jovem, ingressou no movimento de esquerda Tupamaros, uma guerrilha urbana influenciada pela Revolução Cubana e pela luta armada contra a desigualdade crescente na América Latina. Nos anos 1960 e 70, o Uruguai, assim como boa parte do continente, mergulhava em uma espiral de autoritarismo e repressão. Mujica foi baleado em confrontos, preso quatro vezes e escapou da cadeia duas — até ser capturado em definitivo em 1972. Foi então que começou o período mais sombrio de sua trajetória: ou 14 anos preso, muitos deles em condições extremas de isolamento, sob constante risco de insanidade, fome e tortura psicológica.

Mujica sobreviveu à prisão sem perder a capacidade de sonhar. Com a redemocratização uruguaia na década de 1980, foi libertado com outros ex-militantes e entrou para a vida política institucional. Filiou-se à Frente Ampla, coligação de esquerda que se tornou protagonista no cenário político do país. Ao longo dos anos 1990 e 2000, foi deputado, senador e ministro da Agricultura. Em 2009, aos 74 anos, foi eleito presidente da República, exercendo o cargo entre 2010 e 2015.

Seu governo ficou conhecido por medidas de enorme alcance simbólico e político: a legalização da maconha, do casamento igualitário e da interrupção voluntária da gravidez. Mas o que mais fascinava — especialmente aos olhos de um jovem estudante como eu — era a coerência radical entre o discurso e a prática. Mujica continuava vivendo em sua chácara nos arredores de Montevidéu, dirigia seu Fusca azul e doava até 90% de seu salário. Dizia:

“Não sou pobre. Pobres são os que precisam de muito. Vivo com pouco para que outros possam viver.”

Ao romper com o modo de vida consumista que domina as democracias contemporâneas, Mujica oferecia uma crítica viva ao que o filósofo britânico Mark Fisher costumou chamar de realismo capitalista. Em sua obra homônima, Fisher afirma que a maior vitória do capitalismo foi tornar-se inevitável no imaginário popular: “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.” Mujica subvertia essa lógica de dentro — não apenas por palavras, mas por ações. Como presidente, provou que é possível exercer o poder sem ser devorado por ele. Não se tratava de moralismo, mas de convicção política. Ele sabia que o consumo desenfreado, longe de emancipar, aprisiona.

Mas não confundamos simplicidade com ingenuidade. Mujica foi um pensador e político estratégico, profundamente comprometido com um projeto de transformação social — um socialismo democrático, enraizado na experiência latino-americana. Ao contrário de modelos autoritários que muitas vezes sequestraram o imaginário socialista, sua proposta ava pela radicalização da democracia, da participação popular e da ética pública. Em suas palavras:

“Se a cultura não mudar, nada muda. As mudanças estruturais não modificam a conduta civilizatória das pessoas. Não se pode construir a cultura solidária a partir de valores capitalistas.”

Essa postura ética e afetiva remete a um verso poderoso da música ‘Primavera’, de Don L: “Ai, que endurecer sem nunca perder a ternura.” Verso esse que, por sua vez, resgata a máxima de Che Guevara — “Hay que endurecerse sin perder la ternura jamás” — e que parece moldar a própria trajetória de Mujica. Foi essa ternura — presente no modo de falar, de governar e de viver — que o manteve humano mesmo após anos de solitária. Foi essa dureza — firme — que o manteve de pé diante da repressão e da dor.

Mujica faleceu no dia 13 de maio de 2025, aos 89 anos. Sua partida deixou um vazio simbólico, mas também renovou a importância de sua herança política, cultural e existencial. Para mim, professor de História no Nordeste brasileiro, sua trajetória continua sendo mais do que uma lição de conteúdo: ela é um farol. Em meio às dificuldades cotidianas do magistério, às desigualdades estruturais e à erosão da esperança, Mujica nos ensina que há dignidade na resistência, e que a utopia não se resume a uma miragem inalcançável — ela é método, horizonte e prática.

Falo aos meus estudantes sobre ele não como quem fala de um herói distante, mas como quem apresenta uma possibilidade real de outro mundo. Mujica nos permite imaginar a política com humanidade, o poder com humildade e a vida com mais essência do que aparência. E é nessa direção que seguimos, com ternura e firmeza, como na canção:

“Ai, que endurecer sem nunca perder a ternura.”

Talvez seja essa a maior herança de Mujica: a coragem de caminhar mesmo quando o caminho é estreito, e de sonhar mesmo quando tudo nos chama ao cinismo. Sua vida foi um lembrete permanente de que a História ainda pode ser escrita com afeto, justiça e liberdade.

*Ítalo Aquino é professor de história, doutorando na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Pesquisa as relações de trabalho no campo brasileiro, especialmente na Paraíba, no período de 1958-1964.

**A opinião contida neste texto não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.

Editado por: Cida Alves
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja *
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

Washington

Partido socialista dos EUA rejeita fake news sobre participação em assassinato de funcionários da embaixada de Israel

ANÁLISE

‘Agro Gerais’? Zema comemora crescimento do agronegócio, enquanto MG sofre com desigualdades

REPARAÇÃO

Comissão concede anistia a Dilma Rousseff, que receberá indenização de R$ 100 mil

Eleições regionais

Partido socialista tenta vencer estados-chave na Venezuela para reforçar força eleitoral

Cultura

Lei institui data de nascimento de Reginaldo Rossi como Dia do Brega

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.