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Início Direitos Direitos Humanos

Massacre da BR-277

Ato cobra justiça por Antonio Tavares, camponês Sem Terra morto pela PM do PR há 25 anos

Crime ocorreu em um contexto de grande criminalização da luta pela terra no estado, durante o governo Jaime Lerner

02.maio.2025 às 20h57
Curitiba (PR)
Comunicação MST-PR e Ednubia Ghisi
Ato cobra justiça por Antonio Tavares, camponês Sem Terra morto pela PM do PR há 25 anos

Registro do ato realizado neste dia 2 de maio de 2025. - Foto: Ana Clara Lazzarin / MST

Há 25 anos, o trecho do quilômetro 108 da BR-277 em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, ganhou um novo sentido para a história do Paraná. Na manhã de 2 de maio de 2000, o asfalto da rodovia que atravessa o estado de leste a oeste foi o cenário do que ficou conhecido como o “Massacre da BR-277”. A Polícia Militar do governo Jaime Lerner barrou uma caravana de ônibus que levava mais de 2 mil trabalhadores Sem Terra até a capital, e assassinou o camponês Antonio Tavares. Ele tinha 38 anos, era casado e pai de cinco filhos. Mais de 200 pessoas ficaram feridas, entre homens, mulheres, crianças e idosos. 

Na manhã desta sexta-feira (2), como tem ocorrido ao longo destas mais de duas décadas, militantes se uniram em torno do monumento erguido nas redondezas de onde ocorreu o crime. A escultura imponente tem mais de 10 metros de altura, moldada em concreto e com o desenho de um homem em pé, com o braço esquerdo erguido, empunhando uma foice. Logo abaixo está gravada a sigla do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, do qual Tavares fazia parte. A obra foi projetada pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, e inaugurada um ano após o massacre, em 2001, resultado do trabalho de organizações sindicais e populares, e de mutirões feitos pelos próprios militantes Sem Terra. 

O cultivo da memória e o grito por justiça é o que move centenas de pessoas até o monumento, todos os anos. Neste ano, a principal reivindicação apresentada na mobilização é o cumprimento total da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), publicada em março de 2024. O organismo internacional condenou o Estado Brasileiro pela intensa violência e omissão de Justiça no episódio, e também determinou a revisão da competência da Justiça Militar para investigar e julgar crimes cometidos por militares contra civis; a divulgação ampla da condenação; a indenização e amparo psicológico a familiares de Tavares e vítimas; a proteção do monumento na BR-277, entre outras medidas. 

Ao todo 185 pessoas ficaram feridas durante a repressão à comitiva do MST | Foto: Arquivo / APP-Sindicato
Trabalhadores desceram dos ônibus e foram revistados pela PM | Foto: arquivo / APP-Sindicato

A sentença deve ser cumprida a partir da atuação conjunta entre o governo federal e estadual, no entanto, caminha a os lentos. Durante o ato, Roberto Baggio, integrante da direção nacional do MST, enviou um pedido à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, e para o secretário da Casa Civil do Paraná, Rafael Ortega: “Nós clamamos e pedimos para que vocês sentem o mais rápido possível para cumprir a integralidade da sentença dada pela Corte. Já deveria ter sido cumprida”. O prazo para execução era de um ano após a divulgação, portanto, março de 2025.   

Uma carta foi enviada à Corte Interamericana nesta semana, atualizando as informações sobre como o governo tem agido para cumprir a sua parte, conforme explicou Darci Frigo, coordenador da organização de direitos humanos Terra de Direitos: “Algumas indenizações foram feitas, para a famílias e alguns trabalhadores rurais Sem Terra. No entanto, a maior parte da sentença não foi cumprida […]. Nós esperamos que se realize uma reunião aqui no Paraná, para que seja colocado em prática aquilo que foi determinado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, já que o Brasil, já que o Poder Judiciário, já que o Sistema de Justiça não garantiram o direito humano que as pessoas têm de o à justiça”, completou.  

Foto: Lizely Borges / Terra de Direitos | Foto: Lizely Borges / Terra de Direitos

Jaqueline Andrade, advogada popular da Terra de Direitos, reforçou a importância do cumprimento da sentença no que diz respeito à adequação do ordenamento brasileiro para que a Justiça Militar deixe de julgar os casos de crimes cometidos por militares: “Isso é muito necessário, diante das diversas injustiças e falta de responsabilização que tem desses violadores, infelizmente. Desde que a gente teve a redemocratização em 1988, a gente não deveria ter uma Justiça Militar como a gente tem hoje, que é um resquício da Ditadura Militar. Isso permanece até os dias de hoje”. 

Quando o assunto é a proteção do monumento erguido em homenagem a Antonio Tavares e a todos os mártires da luta pela terra, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é um dos responsáveis. Fabiana Moro Martins, superintendente do Iphan no Paraná, participou do ato e garantiu o esforço em cumprir a determinação da Corte, também por estar em sintonia com a postura do governo do presidente Lula no que diz respeito à valorização da memória das lutas populares. 

“A nossa principal missão nessa gestão é justamente reconhecer e valorizar o patrimônio que ainda não foi reconhecido institucionalmente. A gente tem muito representado o patrimônio das elites, do colonizador, e tem pouco representação do patrimônio dos povos originários, dos povos negros, das comunidades tradicionais, e porque não, os camponeses”, garantiu a representante do Iphan. O monumento já é reconhecido como patrimônio municipal histórico cultural, pelo município de Campo Largo. Para a preservação e garantia da permanência da obra no local, o terreno precisa ser desapropriado pela União. A obra ará por reforma para que seja revitalizada, ganhe ibilidade e sinalização. 

Ato desta sexta-feira reuniu militantes do MST, do coletivo Marmitas da Terra, da Terra de Direitos, do Partido dos Trabalhadores e sindicatos. Foto: Ana Clara Lazzarin | Foto: Ana Clara Lazzarin / MST

Roberto Baggio propôs um compromisso coletivo para o 2 de maio de 2006, para a organização do grande ato de cumprimento da sentença, naquele mesmo local, em torno do monumento. “Esse ambiente expressa a nossa memória coletiva. É um espaço comum, comunitário. Vamos manter o ideário do nosso projeto, terra pro campesinato, um mundo mais igual e mais humano. Vamos manter o nosso espírito de um povo resistente há 500 anos, massacrados, mas também vitoriosos. Vencemos. Apesar do aparato poderoso estatal e privado, vencemos”. 

Foto: Ana Clara Lazzarin / MST

Contexto de violência e reação popular massiva

O Paraná viveu um período de grande mobilização camponesa e também de extrema violência no campo durante os governos do arquiteto Jaime Lerner, entre 1995 e 2002. Dados da Comissão Pastoral da Terra (T) registraram os números alarmantes: 16 trabalhadores Sem Terra assassinados, 49 ameaçados de morte, 325 feridos e 135 ações de despejo em ocupações camponesas. 

Em âmbito federal, a criminalização contra o MST chegou ao auge com o que ficou conhecido como Massacre de Eldorado do Carajás, quando 21 trabalhadores Sem Terra foram brutalmente assassinados pela Polícia Militar do Pará. A data era 17 de abril de 1996, mesmo dia em que ocorria a maior ocupação de terra do MST até o momento, com cerca de 10 mil homens, mulheres e crianças ocuparam uma parte da área grilada pela madeireira Giacomet Marodin, atual Araupel. 

Com a continuidade da repressão, o MST então decide iniciar um acampamento em frente ao Palácio das Araucárias, no Centro Cívico, sede do governo do Paraná, no dia 8 junho de 1999. Mais de 400 camponeses e camponesas do MST de todo o estado montaram uma “cidade de lona preta” em frente ao Palácio, com o objetivo de denunciar e estancar a violência do governo Lerner. A mobilização acabou 172 dias depois, em novembro, alvo da mesma violência que denunciava. A PM iniciou o despejo ainda de madrugada, agrediu e prendeu camponeses/as e aliados, e impediu a cobertura pela imprensa.

A ocupação em frente ao Palácio se tornou uma pequena cidade, com espaço para sala de aula, alojamento, produção de pães e refeições e até uma horta suspensa. Foto: Arquivo MST no PR

A marcha planejada para iniciar seis meses depois, naquele 2 de mais de 2000, trazia como principal bandeira o fim da violência e da criminalização da luta pela terra, e a efetivação da Reforma Agrária. Nilton Bezerra Guedes, atual superintendente do Incra, era servidor do órgão à época e relembrou o período em que ocorreu o massacre da BR-277. “Era o Incra fazendo um trabalho contra a sua própria natureza, atuando contra a Reforma Agrária. É um momento que marcou o Incra do Paraná. Um momento do qual temos vergonha”. 

Antonio Tavares: um homem de luta e de fé

“Durante a sua vida, Antonio lutou pela dignidade, com a fé e a esperança de um mundo melhor”, relembrou o irmão do camponês assassinato, Antonio Tavares Pereira Irmão, que também participou do ato, ao lado da esposa e do filho. 

Ele relembrou os tempos da infância, quando o irmão indicava vocação para ser padre, mas pela falta de conclusão dos estudos, o sonho ficou pelo caminho. “Depois fomos crescendo e ele começou a fazer catequese e ajudar em educação de base na liturgia” relatou, sobre a continuidade do vínculo de Tavares com a igreja católica.  

A família de Tavares era parte do povo tradicional Ilhéus do Rio Paraná que foi atingido pelo alagamento formado pela hidrelétrica Itaipu. Expulsos de suas terras, ele e a família se somaram a outras famílias na luta pelo reassentamento. Depois de alguns anos de mobilização, a família de Antonio Tavares foi assentada na Ilha do Cavernoso, em Candói. Ali, o camponês ou a fazer parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade.

“Antonio se forma dentro da luta do Movimento Sem Terra, com grandes conhecimentos e grande sonhos, de libertar o seu povo. Ele saia da ilha do Cavernoso, muitas vezes a pé. São 35 quilômetros da Ilha até a BR. A imagem dele com a sacolinha nas costas, a pé, às vezes pegava carona, pra buscar melhorias para a sua comunidade, por amor aos demais, pessoas da comunidade, e por sonhar com um mundo melhor, e que a terra fosse um espaço para que todos tivessem vida, e vida em liberdade”, relembra o irmão. 

Antonio Tavares Irmão, durante o ato realizado em torno do monumento, nesta sexta-feira (2). Foto: Ana Clara Lazzarin / MST-PR

Mesmo religioso, ele incentiva a luta coletiva para melhorar a vida: “Só conseguimos as coisas se a pessoa for pra luta. Se a pessoa ficar rezando, falando e não fazer nada, as coisas não acontecem. Antonio tinha uma dedicação e um preparo para conseguir se expressar. A grande esperança dele é que o povo e as organizações que se engajaram nas lutas pudesse conseguir os seus objetivos, uma terra pra sobreviver, plantar, colher e comer aquilo que realmente produz”, conta. 

O irmão de Antonio Tavares encerrou o seu depoimento durante o ato falando diretamente à militância presente: “Eu sou grato ao Movimento Sem Terra, às organizações de base e organizações sociais por manter viva essa memória. Porque vejam todas as pessoas que vivem e continuam a luta de Antonio. Meus irmãos na caminhada da luta pela libertação e pela continuação do sonho de Antonio Tavares Pereira”. 

Editado por: Mayala Fernandes
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