Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • Nacional
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • |
  • Cultura
  • Opinião
  • Esportes
  • Cidades
  • Política
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Especial

Um ano da enchente

Atingida por enchente costura 12 horas por dia para pagar reconstrução de casa no Sarandi, em Porto Alegre

Roseli Marques fugiu das águas por décadas e, quando achou estar em um lugar seguro, a enchente cobriu sua casa inteira

11.abr.2025 às 15h49
Atualizado em 12.abr.2025 às 09h08
Porto Alegre (RS)
Victória Holzbach
Atingida por enchente costura 12 horas por dia para pagar reconstrução de casa no Sarandi, em Porto Alegre

Com esperança, Roseli se apega na família para encontrar forças e vencer os momentos difíceis - Foto: Francisco Proner/MAB

Aos 14 anos, Roseli Marques dos Santos, que é filha de um indígena da etnia Guarani, foi levada de Horizontina a Porto Alegre para trabalhar em uma casa de família como doméstica. Alguns anos depois, a jovem se casou e ou a morar em um novo bairro com o marido, de onde decidiram nunca mais sair.

Dos 62 anos de vida, dona Roseli convive há mais de 40 anos com as enchentes no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre (RS). Mãe de sete filhos – três biológicos e quatro adotivos – ela é avó de oito netos e tem cinco bisnetos. A família, apesar de ampla, se concentra nas ruas ao redor da Domingos de Abreu e convive diariamente na casa da matriarca, que afirma: “Daqui eu não saio. Eu não fico longe dos meus filhos, netos e bisnetos.”

A apreensão de Roseli está relacionada ao risco de um deslocamento forçado, já que outros moradores do bairro têm sido obrigados a deixarem suas casas devido às obras de reforma do dique de proteção contra as cheias do rio Guaíba. A prefeitura de Porto Alegre identificou a necessidade de desocupar 57 residências nas imediações da estrutura. Embora a casa de Roseli não esteja dentro da área de desocupação, ela teme que essa zona de despejo seja ampliada, especialmente após ter se endividado para reformar sua casa.

Dos quatro filhos que moram no bairro, todos são frequentemente ameaçados pelas enchentes e foram severamente atingidos em maio de 2024. Roseli lembra que, nas outras casas em que morou no bairro, “já estava acostumada com água até o joelho”. A mudança, há quatro anos, proporcionou à família melhoria na qualidade de vida.

O novo endereço era o local de convívio diário das crianças – já que a avó ajuda no cuidado e educação dos netos e bisnetos – e servia de abrigo quando a água subia um pouco mais nas outras ruas. Em maio de 2024, a situação mudou, e a enchente cobriu a casa inteira.

“Aqui nunca tinha enchido de água. E o que era a nossa vida? Nós já estávamos com uma vida estabelecida: meu marido aposentado, eu trabalhava menos, três ou quatro vezes por semana, só pegava uma costura ou outra.”

São mais de 12 horas por dia na máquina de costura com a ajudante, Ketlyn – Foto: Francisco Proner/MAB

Endividamento, trabalho exaustivo e os reflexos na saúde


Depois de 42 dias fora de casa, quando puderam retornar, Roseli e o marido não viram outra alternativa a não ser reformar a casa. Para isso, foram obrigados a fazer cinco empréstimos, pelos quais aram R$ 60 mil para as reformas e compra dos móveis mais urgentes. “A Defesa Civil veio aqui e disse que a gente tinha que se virar. O telhado estava todo deslocado, as paredes apoiadas”, lembra. Ela acredita não ter sido contemplada no programa Compra Assistida porque a casa, apesar de muito prejudicada, não estava completamente destruída.

Ainda assim, afirma que se tivesse direito a uma nova residência, no valor de R$ 200 mil, como prevê o programa, não poderia aceitar: “Eu não posso ir no Compra Assistida, porque a minha filha não perdeu a casa, ela não vai. O meu neto perdeu a casa, mas também não vai. E pra eu ir, tenho que comprar um condomínio, levar meus netos e meus filhos. Eu não saio daqui, então eu vou reformar a minha casa”, decidiu.

Roseli com os dois bisnetos mais velhos Arthur e Pedro – Foto: Victória Holzbach/MAB

Roseli, que trabalha costurando em casa para indústrias de roupas, agora precisa ar mais de 12 horas por dia na máquina. Enquanto isso, seu marido, aposentado devido a sequelas pulmonares deixadas pela pandemia da covid-19, teve que retornar ao trabalho na construção civil.

“O meu velho trabalha de servente de obra, ganha R$ 100 por dia. E eu trabalho aqui dia e noite. Eu ganho R$ 2,30 por cada peça que faço. Eu e ela [uma jovem ajudante] fizemos em torno de 600 peças. Às vezes, dá pra fazer mil por semana. De segunda a segunda, eu não paro nunca.” Apesar de ter criado um programa de crédito especial para empresas que necessitavam de recursos para retomar suas atividades após a enchente, o governo não disponibilizou nenhuma linha de financiamento para pessoas físicas que precisaram reforçar suas casas após a tragédia.

Apesar das dores intensas e inchaços nos pés, tornozelos e joelhos ocasionados pela gota, a jornada de trabalho é intensa e muito cansativa. “Agora eu levanto às 3 ou 4 horas da manhã, e, se você chegar aqui às 7 horas da noite, eu ainda estou nas máquinas, trabalhando.”

A nova casa de Roseli parecia segura das enchentes até maio de 2024 – Foto: Francisco Proner/MAB

A situação financeira da família e o trabalho exaustivo resultaram não somente em fragilidades físicas, mas também no adoecimento mental de Roseli, que, nas consultas ao psiquiatra, recebeu a prescrição de remédios antidepressivos e ansiolíticos. Em um plano ideal, ela deveria priorizar o tratamento, mas isso não foi possível. “Eles me deram Risperidona, Depakene, Equilid e mais um outro. Mas aí eu me chapava (sic) e não conseguia trabalhar. Agora eu estou tomando muito pouco. Quando eu tomava, eu ficava muito tempo mal e não conseguia, esquecia de tudo. Tinha dias que eu não sabia montar as peças para costurar, coisa que fiz a vida inteira.”

Resiliência e esperança

Neste tempo de dificuldade, a alegria da nova vida é o que deu a Roseli esperança e força para seguir em frente. “Minha neta não queria mais filhos, mas engravidou e estava com quatro meses de gravidez. Foi o bebê que me salvou. Ele tem um mês e já conhece a minha voz, sabe?”

O nascimento do pequeno Luan trouxe novas perspectivas à bisavó, que encontra nele e em toda a família forças para continuar o trabalho necessário para pagar as dívidas. Quando perguntamos à Roseli se está feliz, a resposta é rápida: “Sim. Voltei a dançar, arrumei meu cabelo, tomo uns chopps. De vez em quando vamos ali no barzinho, sexta e sábado, pra dançar e distrair um pouco”.

A família de Roseli é grande: sete filhos, oito netos e cinco bisnetos – Foto: Arquivo Pessoal

A vida vai, aos poucos, seguindo seu rumo, mas a enchente reafirmou em Roseli uma decisão tomada décadas atrás e reafirmada inúmeras vezes durante nossa conversa: “Não é por causa da casa que eu não saio daqui. É porque eu não fico longe das minhas filhas. Eu não fico longe dos meus netos. Eu preciso ver eles, eu criei todos eles em roda de mim”. 

A casa após a enchente – Foto: Arquivo Pessoal

* Essa é a primeira reportagem do especial que o Brasil de Fato RS, em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), está desenvolvendo sobre um ano da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul.

Editado por: Katia Marko
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja *
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Notícias relacionadas

Chave por chave

Situação das famílias próximas ao dique do Sarandi, em Porto Alegre, segue sem resolução

CHAVE POR CHAVE

Atingidos pelas enchentes no Sarandi, em Porto Alegre, decidem que só saem de casa com acordo justo

Veja mais

25 ANOS DO MTD

Movimento dos Trabalhadores por Direitos cobra respostas do Estado em audiência pública no RS

Arte e reconstrução

Trupi di Trapu leva teatro de bonecos a cidades gaúchas atingidas pela enchente

PERSEGUIÇÃO

Governo Trump proíbe Harvard de lecionar para estudantes estrangeiros

Ameaça de bomba

Homem ameaça explodir bomba no Ministério do Desenvolvimento Social em Brasília

Miradas

Um ensaio fotográfico em San Antonio de Los Baños, Cuba

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.