Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • TV BdF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • I
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Opinião
  • DOC BDF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Opinião

ANÁLISE

Quem são os libertários argentinos: os profetas bizarros

Terceiro de três artigos que analisam a chegada de Milei ao poder foca nas origens locais e contraditórias do pensamento

19.jan.2024 às 14h33
Buenos Aires (Argentina)
Lautaro Rivara

Equipe do presidente argentino é formada por figuras ultraliberais próximas a seu entorno - Presidencia argentina/AFP

Segundo John William Cooke, a teoria econômica se tornou, para os libertários, “uma ciência enigmática cuja hierarquia cabalística é manejada por alguns poucos iniciados”. Já desde a década de 70, os economistas que se tornariam mainstream (desde os Chicago Boys no Chile até a conhecida “máfia de Berkeley” na Indonésia), faziam alarde de uma linguagem entre críptica e messiânica, que reivindicava para si uma inquestionável legitimidade científica perante a qual os leigos pouco poderiam fazer mais do que se submeter. Afinal, apesar de lidar com seres humanos, para o guru neoliberal Milton Friedman a economia era uma ciência tão exata quanto a física teórica. E seus modelos sociais derivados, uma espécie de “máquina celestial”, uma ordem natural e espontânea tão indiscutível quanto o próprio reino de Deus.  

Mas isso, que era verdadeiro para a Escola de Chicago, se radicaliza quando vemos um personagem como Javier Milei, formado, como já vimos, na Escola Austríaca, e inspirado nos liberais clássicos argentinos e nos libertários norte-americanos. O flamante presidente argentino é um professor e analista de risco que, em suas próprias palavras, ou de ser um neokeynesiano com matizes estruturalistas a se tornar um “neoclássico recalcitrante”, para abraçar depois, com o mesmo ênfase, o credo da escola austríaca e as ideias da liberdade.  

Desmontando o gasto mito do self made man, Milei pôde, graças à modesta fortuna de seu pai – um motorista de ônibus tornado empresário -, desenvolver sua carreira acadêmica em seletas instituições privadas (conseguindo uma graduação e dois mestrados) para se especializar depois em crescimento econômico. Finalmente seu trabalho profissional o levou a trabalhar para o grupo de Eduardo Eurnekian, um dos empresários mais ricos e poderosos do país, com investimentos em aeroportos, energia, agroindústria, infraestrutura, finanças e – eis a chave – meios de comunicação. Foi desde aquele patamar que este personagem irascível, histriônico e indubitavelmente carismático pôde, em 2015, dar o salto que o levou dos escritórios corporativos e das salas de aula universitárias aos estridentes programas televisivos de debate político, e daí à política partidária e à Presidência da República. Como notará quem leia seus livros, veja suas intervenções em redes sociais ou escute seus discursos públicos, se trata de uma figura hiper ideologizada, nas antípodas da direita tecnocrática e pós-ideológica que encarnou desde sua fundação o PRO, o partido do ex-presidente Mauricio Macri. 

Os livros e intervenções de Milei são assombrosamente redundantes: todos os tópicos da Escola Austríaca e dos libertários estadunidenses aparecem ali, vulgarizados e repetidos até o cansaço. O egoísmo filosófico, a crítica ao planejamento econômico, os impostos como “roubo legalizado” e o estado como estrutura criminosa, os monopólios como supostos “benfeitores sociais”, a suposta superioridade ética e produtiva do capitalismo, a justiça social como desigualdade perante a lei, a crítica ao paradigma de direitos, a inveja como móvel e antivalor dos “coletivistas” e a crítica à teoria marxista – mas também liberal clássica – do valor-trabalho. 

:: Quem são os libertários argentinos: a influência dos EUA ::

Mas também a leitura paranoica em torno de uma suposta universalização do “marxismo cultural”, a ausência de limites morais ou sociais à acumulação e à riqueza, a justificação natural da desigualdade, a definição da classe política como “casta”, a ideia do esgotamento da batalha cultural e do necessário salto à lama da política, o monetarismo radical, os bancos centrais como instituições contraproducentes e delituosas, a rejeição aos últimos milhares de anos de instituições tributárias, a defesa do “ocidente civilizado” e a iração pelos Estados Unidos e pelo Estado de Israel. Ou seja, capitalismo e colonialismo em estado quimicamente puro. Mas não só isso, mas uma ofensiva, teórica pelo menos, contra todas as noções e formas do comum, e contra os valores humanistas mais elementares.  

Também aparecem, uma e outra vez, suas referências intelectuais, dado que Milei não é um teórico, mas sim um eficaz publicitário. Adam Smith e "A riqueza das nações", Carl Menger e seus "Princípios de economia política", Friedrich Hayek e seu "Caminho da servidão", Ludwig von Mises e "A ação humana", Robert Nozick e sua "Anarquia, Estado e utopia", os ensaios da filósofa Ayn Rand, expoentes contemporâneos da escola austríaca como o estadunidense Israel Kirzner e os espanhóis Miguel Anxo Bastos e Jesús de Huerta Soto, seus venerados próceres locais desde Juan Bautista Alberdi até os Benegas Lynch, para terminar com os influencers e divulgadores reacionários atuais, como a guatemalteca Gloria Álvarez e o argentino Agustín Laje, ambos com grande sucesso de vendas.  

Esta constelação de influencers, economistas, comunicadores e outsiders (reais ou presumidos, não importa) compartilham alguns pontos em comum. Não são grandes teóricos nem quadros eruditos, mas cumprem sua função principal: sensibilizam, persuadem, dão sentido e contribuem para mobilizar suas respectivas bases. Dominam com expertise os novos idiomas e estratégias digitais, e são capazes de chegar a públicos massivos, particularmente urbanos e juvenis (de fato, no ano 2021, muito antes de seu ascenso meteórico, uma aula virtual de economia de Milei e Álvarez reuniu mais de 10 mil pessoas simultaneamente).  

Embora Laje e outras figuras tenham feito explícita sua apropriação da “batalha cultural” em chave gramsciana, pouco se tem reparado em outra característica, sequer mais estritamente leninista: a utilização dos meios de comunicação (e neste caso as redes sociais) como organizadores coletivos, uma formulação que já estava presente em um texto clássico como o "Que fazer", obviamente em relação a meios muito diferentes (a imprensa partidária em papel e clandestina). Ou seja que, a cavalo da revolução digital, os meios já não operam como meros meios para a propagação de ideias, sensibilidades, juízos e preconceitos, mas como instrumentos políticos em sentido estrito: exemplo disso pode ser o armado de uma complexa e massiva estrutura para a fiscalização eleitoral, só ível, em geral, aos grandes aparelhos partidários, ou a utilização dos grupos de WhatsApp como forma de organização coletiva. 

:: Quem são os libertários argentinos: do liberalismo clássico à última ditadura ::

Apesar deste ideário (ao que devemos tentar compreender como um sistema dotado de certa coerência, e não como um mero mosaico de ideias delirantes), e apesar de sua eficaz estratégia comunicacional, os libertários são conscientes de uma fraqueza que deriva de sua própria radicalidade: a ausência de experiências que possam apresentar como modelos e alternativas reais, dado que todos os experimentos de neoliberalismo realmente existente são desqualificados, ao menos pelos mais doutrinários, como excessivamente estatistas e intervencionistas. Talvez por isso, desde os libertários até os neorreacionários, tenham manifestado nos Estados Unidos um interesse mórbido pela Somália, um país desintegrado pela guerra civil que, ante a virtual ausência de Estado, se teria convertido em um “relativo sucesso econômico”, como soube afirmar o professor Benjamin Powell.  

Trata-se do mesmo interesse que manifestam pela construção de micro-nações como a não reconhecida Liberland nos balcãs servo-croatas, o modelo de cidades-Estado como Singapura, as regiões istrativas especiais da China como Macau ou Hong Kong, ou inclusive a respeito de utopias reacionárias em alto mar, o ciberespaço ou o espaço exterior. Dito seja de agem, o dono da rede social X, Elon Musk, manifestou de diversas maneiras seu apoio a Milei (quem é, de fato, uma figura bastante próxima ao arquétipo elonmuskiano). No caso dos libertários locais, estes podem reivindicar, de maneira aleatória, aspectos parciais de exitosos modelos pró-mercado desde a Índia até a Irlanda, ou inclusive à Argentina e à Inglaterra de há séculos! 

É esta ideologização extrema e esta ausência de exemplos reais a que começa a entrar em tensão, agora que o novo governo se enfrenta a uma realidade indômita, que não cabe em seus modelos matemáticos abstratos, fazendo frente a problemas que seus filósofos e economistas de referência, sobretudo euro-norte-americanos, nem sequer alcançaram a imaginar. No violento choque entre realidade e dogma, entre pragmatismo e ideologia, entre a resistência social e os poderes fáticos, que se elimine o futuro da Argentina que agora dirigem os profetas bizarros.

* Lautaro Rivara é sociólogo, jornalista e analista político
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato
 

Editado por: Lucas Estanislau
Ler em:
Espanhol
Tags: javier mileineoliberal
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja *
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

STF

Moraes ameaça prender ex-deputado Aldo Rebelo por desacato em audiência sobre golpe

Indicativo de greve

Professores do DF paralisam atividades nesta terça (27)

TOPO DA PIRÂMIDE

Recuo do governo em aumento de IOF mostra poder do lobby financeiro, diz economista

EDUCAÇÃO

Comunidade escolar de Porto Alegre denuncia retrocessos na gestão democrática das escolas públicas

Justiça

Moraes nega pedido de assassino de Marielle para receber R$ 249 mil

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.