A falta de consenso entre democratas e republicanos sobre o orçamento dos próximos 12 meses mantém os Estados Unidos na expectativa de uma possível paralisação histórica dos serviços públicos.
O Congresso norte-americano tem até o final deste sábado (30/09) para aprovar o orçamento que sustentará os gastos governamentais até o final do mês de setembro de 2024. Se isso não acontecer, se produziria neste domingo (01/10, data na qual se inicia o novo ano fiscal norte-americano) o chamado “shutdown”, termo utilizado, neste caso, para descrever a paralisação dos serviços públicos devido à falta de verbas.
Líderes do Partido Democrata no Congresso tentam garantir a aprovação da lei de despesas provisórias, com o objetivo de manter os serviços funcionando, já que a lei norte-americana proíbe os órgãos governamentais de gastar ou comprometer recursos sem o sinal verde do poder legislativo.
No entanto, o presidente da Câmara dos Representantes (câmara baixa dos Estados Unidos), o republicano Kevin McCarthy, manifestou nesta sexta-feira (29/09) sua oposição à iniciativa governista.
O opositor Partido Republicano tem mostrado uma forte resistência em aceitar tanto o acordo provisório quanto o projeto principal, alegando discrepâncias em ao menos três aspectos principais: a manutenção de uma grande quantidade de recursos para ajudar a Ucrânia, o aumento das verbas para programas de bem-estar social e para ampliar os auxílios destinados às famílias pobres, além da falta de novos investimentos para controles de imigração na fronteira com o México.
Segundo McCarthy, o governo do democrata Joe Biden precisa apresentar um novo projeto, que exclua os gastos planejados para assistência a Kiev. A primeira proposta da Casa Branca incluía US$ 24 bilhões ao governo ucraniano. Diante da resistência republicana, a bancada governista no Senado apresentou uma redução de três quartos, o que significaria uma ajuda de US$ 6 bilhões, que também foi rechaçada pela oposição.
“Acho que se tivéssemos um projeto de lei sem a ajuda à Ucrânia provavelmente seríamos capazes de avançar”, alegou o congressista do Partido Republicano.
Consequências internas
Caso aconteça o chamado “shutdown”, os departamentos e agências estatais deverão ativar seus planos de contingência. Mesmo assim, serão forçados a tomar uma série de medidas, que incluem a paralisação de todos os projetos e atividades dentro de algumas horas, a suspensão (sem pagamento) de funcionários em licença, a suspensão do pagamento de todos os funcionários públicos e prestadores de serviços (estejam eles trabalhando ou não), a impossibilidade de novos contratos de bens e serviços.
Na prática, as consequências desse cenário poderiam ser: atrasos em voos, fechamento de alguns museus e parques nacionais, fechamento de tribunais de imigração com demora no processamento dos casos, possível suspensão de obras de infraestrutura de transporte, interrupção das inspeções de segurança alimentar, interrupção do o ao programa de educação infantil a milhares de crianças de famílias de baixa renda, entre outros problemas cotidianos.
Por sua parte, a Casa Branca acusou o Partido Republicano de adotar uma postura “extremista” e de “fazer um jogo político visando as eleições de 2024, sem se importar com os efeitos na vida das pessoas”.
Consequências externas
Mas os Estados Unidos não serão o único país a sofrer com um possível “shutdown”. As consequências desse cenário para a economia mundial seriam também significativas.
Segundo a rede de televisão norte-americana CNN, um estudo da consultora EY prevê que o fechamento custaria cerca de US$ 6 bilhões de dólares por dia à economia do país, e levaria à redução do PIB no quarto trimestre de 2023.