Assim que souberam da pandemia do novo coronavírus, ainda no mês de março, indígenas da etnia Sateré-Mawé, do Amazonas, decidiram montar estratégias próprias para evitar que a doença se espalhasse pela terra indígena Andirá-Marau.
Essa iniciativa foi alvo de um estudo dos pesquisadores Bader Sawaia e Flávia Busarello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e Renan Albuquerque, da Ufam, a Universidade Federal do Amazonas. Segundo o professor Renan, os indígenas criaram barreiras sanitárias para fiscalizar a circulação de barcos de pesca, recreio e comerciais.
:: Justiça determina distribuição de cestas básicas a indígenas no Pará ::
"Foi observada a necessidade de trancamento das entradas das terras indígenas. Se cada terra indígena tinha cinco ou sete pontos de o principais, então nesses pontos de o foram colocadas cancelas. Equipes indígenas se revezavam para fiscalizar quem entrava e quem saia", explica.
Renan destaca que a medida adotada pelos sateré ajudou a diminuir os casos da covid-19 dentro das aldeias.
"Uma estratégia não hospitalar resolveu muito do muito do não espalhamento do vírus para dentro de terras indígenas. É claro que não impediu. Mas amenizou muito. Demonstrou que soluções comunitárias, caseiras, domésticas, locais, muitas vezes resolvem o problema", salienta.
:: Indígenas alegam que Funai negou apoio à aldeia que foi ameaçada com ação de despejo ::
Apesar de ser uma estratégia bem-sucedida para conter o avanço do novo coronavírus, por outro lado, a criação das barreiras sanitárias têm dificultado o o dos indígenas aldeados a alimentos que vem de fora. É o que observou o pesquisador.
"Na medida em que se formam medidas sanitárias, também é necessário voltar-se à agricultura familiar, caça, pesca, construção de hortas comunitárias. E muitas vezes, nem todas as comunidades que formam um etnia têm essa disposição e apoio. Construir e manter as barreiras sanitárias nas terras indígenas foi difícil por falta de apoio logístico e alimentar do governo federal", ressalta.
:: Os Kuikuro contra o vírus no Alto Xingu: "não teve mortes graças à nossa organização" ::
Renan Albuquerque informou que o estudo foi publicado na Revista Psicologia e Sociedade, considerada de grande relevância no meio científico.
Procuramos a Funai para saber se o órgão tem acompanhado as ações dos indígenas sateré-mawé no combate à covid-19, mas até o fechamento desta reportagem, não recebemos retorno.