O plano de redução anunciado pelo Banco do Brasil (BB) e endossado pelo governo Michel Temer (PMDB) preocupa organizações de camponeses. A instituição é hoje responsável por cerca de 60% do crédito rural concedido no país. Para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), as medidas são “desastrosas” e trarão impactos negativos na economia de pequenos municípios.
A direção do BB, sob o argumento de “racionalização de recursos”, pretende fechar 31 superintendências, 402 agências e transformar outras 379 em postos de atendimento. A diferença entre as duas últimas categorias é que somente a primeira conta com gerentes. Ou seja, serão 781 estabelecimentos a menos, o que representa 14% do número hoje existente – 5.430, cifra que põe a instituição à frente de todos concorrentes.
Em relação ao número de trabalhadores, a direção do BB têm a expectativa de que cerca de 9 mil funcionários ingressem em um programa de aposentadoria voluntária. Atualmente, 18 mil pessoas se enquadram nos critérios para aderir à proposta. Na hipótese de essa totalidade de empregados decidir se aposentar, a redução seria equivalente à quantidade total de funcionários do banco HSBC no Brasil.
Para o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, a medida vai na contramão das exigências para saída da situação econômica que o país vive.
"O desmonte do Banco do Brasil terá impacto no o ao crédito no país. Somente os bancos públicos aumentaram o crédito de 38% para 57% de 2008 para 2016, enquanto os privados tiveram redução de 5% nos últimos dois anos”, afirma a entidade em nota. “Essa agenda irá aprofundar a recessão na medida em que enfraquece o mercado interno e a infraestrutura social e econômica que nos fizeram avançar na última década”, completa.
O documento do sindicato ainda afirma que é urgente a criação de alternativas para a saída da crise, "que em pela retomada da expansão do crédito para setores prioritários como moradia popular, agricultura familiar, pequenas e médias empresas etc.”.
Além disso, o plano favoreceria o setor bancário privado. “O governo Temer quer desmontar mais uma empresa pública. Quer fechar agências e reduzir postos de trabalho no BB. O oposto do que foi feito nessas empresas nos últimos 12 anos. Esse importante banco público é responsável, por exemplo, por cerca de 60% do crédito agrícola no país”, afirma a presidenta do sindicato, Juvandia Moreira.
“Esse desmonte só interessa aos bancos privados, que não terão concorrência. Em um sistema financeiro extremamente concentrado e sem os bancos públicos fortes, toda a sociedade perde”, declara Moreira.
Agricultura
Dado o volume de crédito para o setor agrícola representado pelo Banco do Brasil, as propostas de redução preocupam movimentos populares do campo.
"O Banco do Brasil tem sido um dos parceiros fundamentais, com apoio e crédito, da agricultura camponesa. É um elemento estratégico do ponto de vista do financiamento, com juros baixos. Só os bancos públicos oferecem esse tipo de serviço", diz Anderson Amaro, da coordenação do MPA, para quem a instituição, até hoje, vinha “facilitando a produção de alimentos”.
Para ele, a expansão do BB nos últimos anos, inclusive do ponto de vista físico, foi um dos principais fatores para esse incentivo. “A capilaridade do banco avançou nos últimos anos, aumentando a disponibilidade para a agricultura como um todo”, aponta Amaro.
“O anúncio de fechamento de uma quantidade significativa de agências vai atingir todas as famílias que tinham o facilitado, porque estavam próximas de seu agente financeiro. Em alguns casos, terão de se deslocar quilomêtros de distância", projeta o dirigente.
Amaro lembra que, em muitas localidades do país, a atividade agrícola é o elemento fundamental de dinamismo da economia, e que tal redução terá também efeitos indiretos sobre o país. "[Essa redução] poderá impactar no PIB. A gente sabe da importância da agricultura na economia, terá um efeito cascata", diz.
"Em todo o Brasil, municípios pequenos e médios têm sua economia baseada na agricultura. A seca que ocorreu no Espírito Santo, por exemplo, teve um impacto fortíssimo sobre a economia e o comércio locais, estagnando-a. Imagine isso no próximo período, com agências fechadas? A dificuldade será dobrada", prevê.
Dado esse cenário, o dirigente afirma que o MPA, bem como os movimentos articulados em torno da Via Campesina já estão se organizando para enfrentar o plano. "O governo ilegítimo mostra sua face a cada dia. Não vamos deixar isso acontecer de braços cruzados", finaliza.
Edição: Camila Rodrigues da Silva